domingo, 17 de maio de 2009

Não sei

Gostaria de chorar agora, mas não vou.
Para quê deixar que o vento seque minhas lágrimas, deixando uma impressão secreta e àspera na minha bochecha.
A dor em mim não conhece voz, só silêncio.
Ela se expressa com palavras e frases.
A lágrima é, para mim, uma expressão fútil. E por isso, não me interesso em derrama-la.
Talvez também, porque a lágrima é a consciência.
Não quero ter a consciência do que me machuca.
Por mais que doa, sem consciência não parece tão real.
O sonho que eu tive hoje, foi tão doloroso.
Nele você me desprezava.
Foi estranho acordar do seu lado, me deixou confuso.
Quis te contar, mas você dormia.
Agora não sei se deveria ter dito algo, mas não importa.
O passado não se muda.
Os fragmentos de dor espalhados parecem brilhar na escuridão do meu quarto.
Brilham tanto que não consigo dormir.
Brilham tanto que não consigo me distrair.
O que eu sou para você, afinal?
Quero algo teu, uma palavra ou um gesto, que apague esta luz.
E lá vou eu, necessitando de ti para me dar paz.
E lá vou eu, necessitando de ti.
Chega.
É por isso que lágrimas não devem ser derramadas.
A derrota não pode ser admitida.
Se a realidade dói, ela necessita ser modificada.
Não quero e não vou chorar por ti.
Quero apenas dormir.
Por favor, me deixa só dormir.
E nem em sonhos, por um segundo, quero pensar em ti.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cheiro

Gosto do teu cheiro.
O teu cabelo um pouco sujo.
O teu suor.
Tem algo na tua essência que me fascina, me vicia.
Eu não sei o que eu significo para ti.
Não sei que função eu tenho.
Só sei que quero ser útil, quero ser necessário.
Se você quiser a minha alma.
Se você quiser meu corpo.
Se você quiser minha presença.
Se você quiser minha verdade.
Se você quiser minha mentira.
Tudo que você quiser, eu dou.
Tudo que você quiser, eu sou.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Maria, mãe de deus

Teu rosto pálido e oval tem uma expressão condescendente.
A imagem de porcelana, pintada de cores pastéis, é como uma manifestação física da piedade.
Tua íris azul suplicante, tuas mãos esticadas oferecendo ajuda, teu sorriso de mona-lisa...
Maria, mãe de deus.
Admiro tua beleza, mas não vejo em ti uma alma.
Todo teu gestual, tuas cores, tuas formas. Tudo indica uma delicadeza, uma intencionalidade de meigura dos que te fizeram.
Tua beleza é só artíficio.
Teus olhos são pintados de maneira gentil, mas são frios.
Tua boca foi desenhada para parecer real, mas não ouço tuas palavras.
Maria, mãe de deus.
Tu é como uma grande árvore oca: parada no tempo e morta por dentro.
Não passa de um pedaço de mobília, como uma cadeira.
Só que ao contrário de uma cadeira, tu não tem função prática alguma.
Eu invejo aqueles que em ti, encontram consolo.
Para mim, tu não passa nada.
Amém.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ladrão!

Ladrão!
Tu me rouba de mim.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Bebi da maneira errada

Mais um copo, para esquecer.
Mais um copo, para não pensar.
As pernas cambaleiam, em vão.
Aquilo que eu queria que caísse, continua firme dentro de mim.
Aquilo que eu queria embriagar, continua lúcido dentro de mim.
Eu tento embebedar a ti que vive dentro de mim, mas não consigo.
Só me deixo mais frágil na presença dos meus sentimentos.
Vejo tudo dobrado, mas você continua ali parado, estacionado.
Nos meus pensamentos, nas minhas intenções, nas minhas ansiedades.

-

Eu queria me desintegrar.
Deixar de existir.
Para não ouvir as palavras que vem de você.
Chega de imaginar os significados que não existem.
Chega de esperar aquilo que nunca chega.
Não quero mais os teus olhos.
Não quero mais os teus lábios.
Não quero mais o teu sorriso.
A tua beleza dói em mim.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Homenagem à criação desse blog.

Isso precisava sair.
Ir para algum lugar.
Não sei porque, nem para onde.
Eu só deixo essas palavras fluírem como lhes convém.
Elas não são as mais bonitas, nem as mais inteligentes.
Estas linhas não são as melhores escritas ou as mais ordenadas.
Tão pouco são as mais esforçadas.
São palavras cujo único valor está em seu ir.
São só palavras que precisavam sair.

Quero a vida.

Quero a vida.
Que venha nua e crua.
Como a verdade mais amedrontadora.
Que venha arrebatadora, cruel e vagabunda.
Como uma prostituta amargurada.
Que venha romântica, vigarista e irresistível.
Como um malandro amoroso.
Que venha cheia de armadilhas, mudanças e labirintos.
Como um filme emocionante.
Que venha cheia de tempero, sabor e pimenta.
Como um prato do qual não se esquece.
Quero a vida.
Nua, crua, arrebatadora, cruel, vagabunda, romântica, vigarista, irresistível.

Marinheiro

Sou marinheiro do meu oceano de identidades.
E ao chegar em cada porto, me apaixono por mim mesmo.
Me torno minha própria namorada.
As vezes, eu penso em me casar. Ser um só eu, em um só porto desta minha alma.
Mas no fundo, sei que só posso ser fiél ao mar.
E por isso, sempre me abandono. E descubro-me de novo, em outro porto.
Um novo eu, para namorar. E também para deixar.
Tudo isso me cansa, mas não posso parar.
Sei que deus me criou para esse incessante navegar.

Cala-te

Cale o medo com um beijo.
Esqueça as convenções com um sorriso.
Apague o passado com um olhar.
Deixe a tristeza se desintegrar no ar.
Hoje não quero ser nada que não seja eu mesmo.
Hoje eu não quero mais me machucar.
Preciso só dos teus olhos, em qualquer direção.
O teu toque, de qualquer maneira.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ele

Dinheiro não o compra.
Felicidade não existem sem ele.
A fama não vai lhe trazê-lo.
Nem mesmo a promoção mais importante da sua carreira.
Não está em nenhuma vitrine.
Não pode ser controlado ou programado.
Nem sempre faz sentido, mas é impossível de se ignorar.
Todos os pensamentos do mundo não vão trazê-lo.
Todos os argumentos do mundo não vão convencê-lo.
Não se passa de geração em geração.
Não se pega por contato.
Nenhuma lei pode impedi-lo.
Nenhuma força pode pará-lo.
Não há nenhuma pessoa que não o deseje, nem que seja em segredo.
Ele é a necessidade mais básica. Mais do que a comida ou a própria vida.
É a chama mais importante de toda forma de arte.
É ao mesmo tempo, maravilhoso e pertubador.
De todos os mistérios desse mundo, nenhum é tão intrigante e supremo como o amor.

Grito em silêncio

Me dei conta que o meu combustível é a loucura.
A dor, as dúvidas, o paradigma, a confusão.
Escrevo com a mulher em mim, com o homem em mim, com o hermafrodita em mim.
Sou assexuado no papel, sob a forma de um "Eu". Um "Eu" delirante. Um tanto antropofágico. Até meio mágico.
Com o poder de se transmutar. Me transformo, me deformo, me construo.
Em forma de palavras, de linhas, de letras.
Meu corpo verdadeiro é uma frase, um verso.
Meu coração bate no ritmo da digitação destes escritos, estes devaneios.
Escrevo minha loucura com a tola esperança que elase transforme em algo bom. Sou meu próprio exorcista e o papel é meu instrumento.
E aqui é que eu sou eu.
Sem lenço, sem documento e sem permissão.
Sou um eu tão verdadeiro que chega a ser falso.
Escrevendo versos tão sinceros que chegam a ser perigosos.
São as confissões de tantos que carrego aqui dentro, trancafiados pelas convenções do dia-a-dia.
Para mim, escrever é gritar em silêncio.

Nu

É díficil parar de atuar. Dispensar as máscaras as quais estou tão acostumado a colocar.
Revelar aquilo que se quer esconder, fragiliza. Mas eu insisto. Eu quero me libertar.
E tudo em nome do que?
Do amor. Um amor que seja dirigido à mim.
Aos meus cabelos quebradiços, ao meu rosto "muito magro", as minhas espinhas e meu corpo esqualido. Que me amem pelo que eu sou, pelo que eu mais temo em mim.
Não amem as minhas visões, as minhas performances. Não amem meu rosto maquilado e inventado pelo meu esforço.
Eu oficialmente me retiro dos palcos da vida.
Quero ficar na platéia, aonde não preciso de aplausos para ser feliz. Quero parar de tentar me construir, quero apenas ser.
Tudo isso me dá um medo, evidentemente.
Porque eu não consigo acreditar que alguém me ame. Não a mim, que sempre me achei patético.
Me desnudo e não gosto do que mostro. Mas não me importo, quero me mostrar.
Nu, cru, feio, incoerente, imperfeito, humano.
Este sou eu, mundo.
Sem filtros, sem açucar, sem legenda.

Virando espuma

Por entre as ondas, sinto meu corpo começando a boiar.
Fico cada vez mais leve, repleto de doce escapismo.
Fecho meus olhos e ouço a canção do mar.
Fecho meus olhos e me permito fingir ser um peixinho.
A espuma branca me envolve, como um abraço.
Se funde ao meu corpo. Aos poucos eu me derreto no seu toque sedoso e branco.
Meu corpo vira a espuma e eu me desmancho pelas ondas do mar.
Livre, sempre a boiar.
Vou e volto pelas marés.
Espanto pessoas, correndo atrás de seus pés.
Visito a areia. Danço na crista das ondas.
Não há o que questionar.
Na imensidão azul, me deixo levar.

Conflito do corpo

Eu não tenho um corpo. Tenho uma dúvida, um ponto-de-interrogação.
Sou uma reunião inconciliável de opostos desde o dia que nasci.
As vezes acho que serei assim até o dia da minha morte.
As vezes eu me iludo, outras vezes sonho.
Mas a dúvida sempre permanesce, confusa, quente e áspera.
Me deixando inquieto e sem descanso, entre um corpo e uma almaque se agridem.

Sonho

Eu sou o sonho, meu bem.
Não tem nada que me descreva melhor.
Sou o sonho em carne e osso.
Teu desejo manifesto.
Nos meus braços, os abraços são mais macios.
Nos meus lábios, os beijos são mais doces.

Prima-Ballerina

Sou prima-ballerina dançando uma coreografia sem nome, no ballet da vida.
Passos improvisados, que rasgam o ar.
O corpo se agita e as vezes, parece voar.
A música que me possui, que me guia, A música da minha própria poesia.
Ouvindo a mim mesmo, eu descubro uma peça inédita. E nela me torno protagonista.
Eu não sei como acaba, eu não sei qual o próximo ato.
Eu apenas danço, sem ensaio ou bis.
No final de cada grande dança, não há aplausos.
Não a ninguém para me dizer se fui bem ou se fiz algo errado.
Isso porque não há platéia nesse teatro.
Só um espelho.

Se isso for amor...

Pedaços de mim, pedaços de você.
Formando uma pintura, um tanto desbotada.
Uma obra nostálgica, de cores tímidas e beleza singela.
Mas algo nela, nos desnuda. Nos revela.
É como uma antiga cantiga de ninar, mas contandoa história de nós dois.
Ou ao menos, tentando contar.
Eu não sei quem tu é.
Eu não sei quem eu sou.
Tudo que eu tenho é esse sentimento e a fé ingenua que ele é real.
Talvez seja loucura, talvez seja solidão.
Ou talvez seja algo que somente eu e você podemos compreender.
Seja quem você for.
Seja quem eu for.
Apenas saiba que te amo.
Se isso for amor.

Uma prosa para variar.

Ali, naquele bar comum (aquele boteco singelo e bagaceiro que se repete em cada esquina desse país), se encontravam novamente.
Os passantes arregalavam os olhos quando cruzavam pela mesa, mas nada diziam. O preconceito é como uma capa de invisbilidade que cobre as pessoas que a sociedade prefere não ver. E, sob esses olhares invisíveis e onipresentes, lá estavam eles. O grupo que qualquer boa família temeria: a lésbica, a comunista, a revoltada e o travesti.
E não estavam lá, simplesmente. Os desgraçados ainda bebiam e tinham a coragem, imagine só, de conversar em vozes altas. Alguma pessoa mais ingênua diria que até pareciam felizes. Onde já se viu tamanha falta de vergonha? Ser aquilo e ainda sorrir?
As três da madrugada saíram. Cambaleando em seus sapatos (o travesti, inclusive, gingando no salto-alto), entre abraços e brincadeiras. Só que todo mundo sabe que um grupo tão vergonhoso não pode simplesmente sair. Ir e vir é um direito reservado às pessoas normais. Quando um grupo tão socialmente imundo como este sai de um recinto, sua presença continua. As cadeiras ainda em formação na mesa, os copos vazios cobertos com saliva e marcas de dedos. É como se "aquela gente" continuasse ali. Malditos imundos...haviam manchado aquele bar, aquela mesa. Ninguém de bem ousaria sentar mais ali. Isso porque lá não era mais lugar de gente.
Era lugar de fantasmas.

Confissão

Eu sou um ilusionista.
Escrevo sempre sobre coisas que não vivi.
Não que não as tenha sentido. Apenas que elas não aconteceram.
Eu sou o ilusionista e também sou a platéia.
Me iludo para acreditar, por um segundo, na minha própria ilusão.
Crio uma segunda vida e a vivo, e volto dela com minhas anotações.
E é isso que transcrevo aqui, ali, lá.
Tudo isso em nome da tentativa de escrever poesia.

Equilibrismo

Vivo a tensão.
Vida de equilibrista na corda-bamba.
Tentando equlibrar o desequilibrio.
Tentando equilibrar o meu eu com o mundo.
Cada final de dia é o fim de uma batalha.
Mas a guerra é infinita.
Cada dia que acordo é mais um espetáculo.
De equilibrismo.
Não há intervalo.
E a platéia não têm senso-de-humor.
Eles não querem saber do riso, do choro, da mágoa e do medo.
Para eles, o mundo é aquele momento. Aquela corda.
E são eles quem me empurram para o palco, sem que eu compreenda o porque do show.
Durmo e acordo em paranóia, tentando estar sempre um passo a frente de todos.
E as vezes, eu até consigo. Mas seja vitória ou derrota, o resultado é o mesmo: o show deve continuar.
Há sempre outra corda no final da corda.

Homenagem aos travestis

Vivo minha vida como uma atriz esquizofrênica.
Não sou atriz profissional, atuo somente na peça da vida.
E alucino com minhas personagens.
Cada dia, um novo papel.
Quando ele me toca, sou virgem donzela.
Quando ele parte, sou heroína desesperada.
Quando fazemos amor, sou femme fatale.
Nunca visto roupas, visto apenas peles.
As peles de mulheres.
Com salto e maquiagem, me inveto e me re-invento.
Um dia sou Audrey, outro dia sou Bardot.
As vezes sou Marilyn e as vezes sou Deneuve.
Vivo a minha vida através das várias divas que moram no meu coração.
Não sei viver sem esse interpretar.
Minha natureza é ser assim, atriz da alma.
Não sou falsa.
Cada uma destas personas é, em verdade absoluta, uma face de mim.
Personifico os fragmentos de mim mesma.
Acho que sofro de esquizofrênia romântica.
E contra isso, não há remédio. É de nascença.
Me resta interpretar meus papéis com maestria.
Mas não importa o quão bem eu interprete, nunca há aplausos no teatro da vida.

O Andrógino

Já dominei a engenharia e dobrei os conceitos.
Em relação aos sistemas binários, escolhi só seguir os matemáticos.
No jogo de identidades da vida, eu perco e ganho ao mesmo tempo.
O meu corpo, eu invento.
E re-invento.
Esboço eterno do meu eu circular e infinito.
Livre para banhar-me nas águas do fluxo constante que as pessoas erram ao separar em feminino e masculino.
Eu sou tudo.
Eu sou nada.
Vou dançando minha própria música, enquanto os outros seguem a valsa.
Não existe coreografia para minha existência.
Não tem ensaio, nem script.
Não tem começo, nem fim.
E há quem diga que estou no meio de uma grande confusão.
E eu não discordo, se confusão for ser extamente quem se é, no segundo em que se é.
Na verdade eu sou uma confissão de todos aqueles fragmentos que as pessoas negam.
Ao contrário da maioria, não sou uma resposta. Sou uma pergunta.
Vivo o meu eu de hoje. Porque o de ontem já passou e o de amanhã ainda não veio.
Nem homem, nem mulher.
Eu sou quem eu quiser.

Aquilo

Os nossos caminhos foram marcados.
Aqueles dias, quando nós sonhávamos juntos,
nunca me deixaram.
Na fantasia, aonde nossos corpos não pesavam,
construimos castelos de areia que nem o oceano pode apagar.
E agora, aqui estou eu.
Negando a realidade que acabou com nossos sonhos.
E agora, aqui estou eu.
Sozinho.
E por mais que eu queira fazer alguma coisa, eu sei que não devo.
Porque esse nosso amor não é como o das pessoas normais.
É ilusão, pó de nossas infâncias. Puro demais para existir em um mundo desses.
Por isso, apesar de ser chamado de sonhador, eu fecho meus olhos para o que esses humanos chamam de amor.
E me torno relicário deste sentimento etéreo e infantil que nós sentimos um pelo outro quando nossas almas ainda não tinham sido manchadas.

Vai

Todo o dia.
As pessoa se vão.
E não voltam.
Vão-se aos poucos ou subitamente.
Vão-se em parte ou integralmente.
Um dia, eu irei também.
E como irei? Eu não sei.

Morreu

Ele morreu.
Foi-se para "da'onde" não se volta.
Deitou-se na cama "da'qual" não se levanta.
Dormiu o sono "do'qual" não se acorda.
As pessoas perguntam, embuídas de mórbida curiosidade,
"De quê?"
E em seu peito, não mais há bater, um coração.
Recheado com todas as respostas.
"Morreu de amor".

-

Ninguém pode entender a lógica desse nosso querer.
É um querer por se querer, um querer que acontece sem querer.
Eu te quero inteiro, completo.
Quero teus lábios, tuas angústias, teus cabelos.
Quero tua risada, teus dentes, teus pêlos.
Mas mais que tudo, quero teus momentos, nossos momentos.
Não precisa ser eterno. Quero o teu efêmero, o nosso efêmero.